Sílvia Dias

Propósito de Vida

Actualmente vejo imensas pessoas em busca do seu propósito de vida e fico perplexa com este fenómeno, pois todos nós vivemos o nosso propósito de vida, mas não temos consciência de isso.

“Propósito de vida”, “missão de vida”, ou mesmo, “sentido de vida” são conceitos que querem dizer exactamente a mesma coisa e que (re)nasceram na corrente da psicologia positiva, associados ao conceito de felicidade – “Se as pessoas viverem o seu propósito de vida são pessoas mais felizes.”

Contudo, hoje em dia, deparamos com duas grandes questões que impedem muitas pessoas de verem que já estão a viver o seu propósito de vida:

1) Uma delas é considerarem que só são felizes se tiverem um excelente relacionamento, se tiverem um trabalho maravilhoso sem qualquer problema, se…. E os “se” continuam, ou seja, as associam a felicidade a algo que está fora e a áreas de vida;

2) A outra é que muitas vezes associam o propósito de vida à área do trabalho e da carreira, como se o propósito de vida só se pudesse viver aqui ou que dependesse desta área de vida.

Antes de continuar, talvez seja importante pararmos e perguntarmo-nos: “O que é que me faz feliz?” ou “Como posso ser mais feliz?”.

Vitor Emil Frankl, médico psiquiatra austríaco, fundador da Logoterapia, uma psicoterapia que que explora o sentido existencial do individuo e a dimensão espiritual da existência, relata a sua experiência nos campos de concentração, na obra “Um homem em busca de um sentido”. Durante esta sua vivência, ele observou que as pessoas que tinham um propósito eram mais felizes, ou seja, as pessoas que davam um significado à sua experiência aceitavam e lidavam melhor com o que a Vida lhes trazia em cada momento.

Então para sermos mais felizes é importante resignificar as nossas vivências/experiências? Sim e não. Não, porque pode não ser apenas e o suficiente. Sim, porque quando damos significado, sentimo-nos vivos, com um sentido, com uma missão de vida. E isto pode ser a diferença entre “sobreviver” (ser vitima) e “viver” (ser protagonista/responsável) em cada momento da nossa vida.

E se podemos ser o protagonista da nossa vida e dar um propósito à tua vida, a pergunta é qual ou quais os valores que queres viver nesta vida? Qual o valor que queres que fique marcado na tua pessoa, nesta vida?

Quando colocamos esta questão, estamos a referir-nos aqui ao Propósito Interno, que vai variar consoante os valores de cada pessoa, em cada momento da sua vida. Contudo a questão é que muitas vezes pensamos que não estamos a viver os nossos valores e por isso não somos felizes. E pensamos porquê? John Demartini, especialista em comportamento humano e desenvolvimento pessoal, vem dizer-nos algo muito importante sobre esta questão: nós não podemos não viver os nossos próprios valores, isso é apenas uma mentira que contamos a nós mesmos. A questão prende-se com o facto de não estarmos a viver os nossos valores de acordo com as nossas expectativas, com aquilo que achamos que deve ser e não é. Por exemplo, imaginemos que um dos meus valores era a “Comunicação” e eu acho que para viver este valor devia estar a fazer palestras e a escrever para um blog, mas na verdade estou a trabalhar num serviço de atendimento ao público. Mas neste serviço ao público não estou a viver o valor da Comunicação? Vamos continuar com outro exemplo, em que o valor seria “Amor (ao outro)” e considero que para manifestar este valor eu deveria acompanhar pessoas em terapia, mas neste momento sou cozinheira. Como cozinheira não vivo o valor do “Amor”?

É contexto para se dizer que as expectativas é “estragam tudo”, mas como não é possível viver sem elas, apenas podemos estar mais atentas a elas, podemos pensar de uma outra forma: o que queres priorizar na tua vida? Onde queres colocar o foco da tua vida? De que forma queres viver a tua vida? Como queres vivenciar os teus valores?

Tudo o que diz respeito à forma ou ao “como?” já se reporta ao Propósito Externo.

Contudo, cuidado! Atenção, atenção, atenção! Por vezes esquecemo-nos do nosso Propósito Interno a lutar pelo Propósito Externo! E isto só nos faz sentir mais infelizes e insatisfeitos. Uma coisa é ser rico (o que é valioso para mim enquanto pessoa), outra coisa é ser endinheirado (ter muito dinheiro).

Quanto mais conectado estiver o teu Propósito Interno ao teu Propósito Externo, mais vais sentir-te feliz, com um sentido na tua vida.

Para te ajudar nesta descoberta, proponho-te duas questões para reflexão:

– Quais são os meus valores?

– Como os posso por em prática (vivê-los) na minha vida?

E lembra-te sempre não é possível não estares a viver os teus valores, o teu propósito, portanto, aceita, agradece, mas não te acomodes.

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