Para onde foi o nosso amor?

Em algum momento da vida a dois, muitos casais dão por si a fazer uma pergunta silenciosa, por vezes angustiante: “O que aconteceu ao nosso amor?”. 

O que antes era riso, toque, conversa e calor, agora parece ter-se transformado em silêncio, irritação e distância – como se a conexão emocional se tivesse evaporado.

A perda da ligação emocional é, muitas vezes, o verdadeiro início do fim. 

No entanto, pode ser considerado o ponto de partida para a transformação da relação. 

O amor não desaparece do nada, ele esconde-se quando nos sentimos emocionalmente inseguros.

A base de uma relação saudável não é apenas compatibilidade, sexo ou interesses partilhados, mas sim aquilo a que chamamos “vínculo emocional seguro”. Esse vínculo alimenta-se de momentos de contacto genuíno, em que um dos parceiros diz — com palavras ou gestos — “estou aqui para ti”. 

O problema surge quando, por várias razões (stress, mágoas, desencontros), esse vínculo começa a enfraquecer. E é aí que surge a sensação de que o amor “desapareceu”. 

Mas o amor não desaparece. 

O que acontece, na verdade, é que deixamos de nos sentir emocionalmente seguros e compreendidos. 

E, começa, então, uma espécie de dança emocional dolorosa —  o “ciclo negativo”.

O ciclo negativo: O verdadeiro inimigo do amor

Os casais muitas vezes ficam presos em ciclos de interacção negativa. 

Um exemplo comum:

  • Um dos parceiros sente-se só ou ignorado e tenta aproximar-se, mas fá-lo através, por exemplo, de críticas (“Já não te importas comigo. Nunca me ouves”);
  • O outro parceiro, sentindo-se atacado, fecha-se ou responde friamente (“Estás sempre a queixar-te. Nada do que eu faço chega.”) – O que só reforça a dor do primeiro;
  • E o ciclo repete-se, cada vez com mais intensidade.

Este ciclo negativo ou  padrão de “ataque e fuga” emocional é automático e muitas vezes inconsciente. 

O problema não é o conflito em si, mas o que está por trás dele: o medo de não sermos importantes para quem amamos. Não é que os parceiros tenham deixado de se amar — mas estão presos em reacções defensivas que os afastam um do outro.

Por trás das discussões, há um pedido de amor e emoções  profundas e vulneráveis:

  • Medo de rejeição;
  • Insegurança;
  • Necessidade de proximidade…

O que torna estes ciclos tão difíceis de quebrar é que as emoções vulneráveis raramente são expressas de forma directa. 

Em vez de dizermos “Tenho medo de que já não me ames”, dizemos: “Nunca estás presente.”

Por baixo da raiva, há medo, tristeza, insegurança, saudade. 

Quando um parceiro se cala, pode estar a sentir-se rejeitado. 

Quando outro grita, pode estar a clamar, desesperadamente, por atenção. 

Para sair deste ciclo, os parceiros precisam de aprender a reconhecer e a partilhar as suas emoções mais profundas — com vulnerabilidade.

Assim como uma criança precisa de saber que pode contar com os pais, os adultos também precisam de sentir que o seu parceiro está emocionalmente presente e acessível. 

Isto significa:

  • Sentir que o outro está “lá” quando mais precisamos;
  • Saber que podemos confiar na resposta emocional do outro;
  • Ter a certeza de que não estamos sozinhos na relação.

Quando perdemos esta sensação de segurança, o nosso sistema emocional entra em alarme – entramos em modo de defesa. 

O cérebro interpreta isso como uma ameaça — e respondemos instintivamente: a discutir, a fugir, a calar, a afastar. 

Entender isto muda tudo: em vez de vermos o parceiro como inimigo, começamos a reconhecer o ciclo negativo como o verdadeiro problema — e isso devolve-nos o poder de mudar juntos o padrão.

Como reverter a desconexão?

Este ciclo pode ser transformado. 

E a reconexão emocional é possível — e muitas vezes, mais profunda do que antes. 

Aqui estão alguns passos para começar a reconstruir a ligação emocional:

1. Reconhece o ciclo — e não culpes o outro – Identifica quando estão presos em padrões de conflito e afastamento.

Dêem um nome ao ciclo (“a nossa dança”, por exemplo), ajuda a retirar a culpa pessoal.

2. Identifica as emoções mais profundas – Pergunta a ti próprio o que sentes por baixo da raiva ou do silêncio – “O que estou mesmo a sentir? Medo de ser deixado? Insegurança? Tristeza?”. Expressar isto com honestidade é o primeiro passo.

3. Fala com vulnerabilidade – Em vez de criticar, fala sobre como te sentes e o que precisas emocionalmente. Usa frases como:

  • “Tenho saudades tuas”;
  • “Sinto-me insegura quando me parece que te afastas”;
  • “Preciso de sentir que ainda estás comigo.”

4. Restaura a segurança emocional – Conversem sobre como podem mostrar-se mais disponíveis e emocionalmente presentes um para o outro.Pequenos gestos de cuidado e atenção fazem uma enorme diferença.

O amor não desaparece — Esconde-se 

O amor não é uma questão de sorte, mas de vínculo emocional seguro — e os vínculos podem ser trabalhados em conjunto.

O amor não desaparece e quando compreendemos isto, conseguimos deixar de ver o parceiro como inimigo e passamos a vê-lo como alguém que também está ferido, também está com medo.

Reconstruir a ligação emocional exige coragem, empatia e presença. E isso está ao alcance de qualquer casal disposto a olhar com honestidade para a sua relação.

Por Maria Leonor Moura – Equipa Sílvia Dias

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