A intimidade no casal está muito associada à intimidade física e sexual, contudo vai muito para além disso.
Acredito que a melhor forma de entendermos as palavras é procurarmos a sua raiz, pois é nas raízes que se encontra a origem. A palavra “intimidade” deriva do latim “intimus”, que significa “mais profundo.” Esta profundidade vai muito mais além do que a proximidade física num casal. Então, podemos dizer que quando falamos em intimidade no casal, estamos a dizer “relação profunda no casal”.
O QUE É UMA RELAÇÃO PROFUNDA NO CASAL?
É a intimidade que vai desde o emocional, até ao físico e sexual e que requer tempo para ser construída e partilhada.
Na verdade, qualquer relação “dá trabalho” e ninguém nos ensina a desenvolver esse tipo de relação profunda (ou essa intimidade) connosco mesmos, nem na relação com o outro. Ninguém nos ensina a ser uma boa companhia para nós próprios, quanto mais uma boa/bom companheira(o)/parceira(o) de vida na relação com outra pessoa.
Uma relação intima ou profunda é uma relação de autodescoberta e descoberta do outro ao mesmo tempo. É uma caminhada individual e em casal. Na verdade, ser íntimo comigo mesmo e com o outro são duas faces da mesma moeda.
Ter uma relação profunda comigo e com o outro significa conhecer-me bem e conhecer bem o outro, conhecer bem as minhas necessidades e conhecer bem as necessidades do outro, conhecer bem os meus sentimentos e conhecer bem os sentimentos do outro. É sentir-me e estar aberta com e para o outro, mesmo com os meus medos e a minha vergonha. É estar conectada com o outro sem segredos. É aceitar-me e aceitar o outro. É expressar o que sinto e dar espaço ao outro para expressar o que sente. É permitir-me olhar o outro e reconhecer-me nele. É permitir-me ser vista pelo outro. É “desnudar-me” emocionalmente para o outro e mostrar-lhe tudo o que sou, com todos os aspectos que amo em mim e com todos os aspectos que eu não gosto e detesto em mim e não mostro a ninguém. É entregar-me total e profundamente sem “rede segurança”. É pegar na minha alma e colocá-la nas mãos do outro, sem saber o que o outro vai fazer com ela. É confiar. É entrar num espaço de vulnerabilidade, um espaço onde muitas vezes vem ao de cima o medo de falhar, de não ser suficiente (boa), de não ser aprovada, de ser abandonada. Ser íntimo é ter coragem para lidar com esses medos e toda a nossa vulnerabilidade, e isso é muito desafiante.
Numa relação onde não se partilha vulnerabilidade, não há intimidade e está condenada ao fracasso. Quanto mais abraçarmos os nossos medos, as nossas vergonhas, as nossas imperfeições, as nossas sombras, as nossas vulnerabilidades, mais crescemos individualmente e em casal.
Quanto maiores forem os níveis de intimidade num casal, maior será o nível de qualidade da relação.
As relações marcadas pela intimidade são aquelas em que ambos mostram a sua vulnerabilidade, confiando que quem ama vai aceitar o outro com tudo o que é, de bom e de menos bom, e que quer ficar ao seu lado.
Para entrar nesse espaço de intimidade e vulnerabilidade é necessário que alguns ingredientes estejam presentes na relação: a Segurança (“Quanto mais segura me sinto, mais profundo posso ir contigo”); a Confiança (constrói-se a partir da transparência, da integridade e do amor, (“Quanto mais eu confio (em mim, em ti e na Vida), mais profundo posso ir contigo”); a Honestidade (comigo e com o outro); o Compromisso (que requer um amor autêntico e uma maturidade emocional); a Consciência (de mim e do outro, assumindo a responsabilidade, sem culpas e sem julgamento); a Conexão (comigo e com o outro); a Comunicação (o mais descritiva possível e na primeira pessoa do singular) e a Empatia (calçar os sapatos do outro).
NA PRÁTICA, O QUE PODEMOS FAZER PARA DESENVOLVERMOS CADA VEZ MAIS A INITIMIDADE NO CASAL?
Viver a intimidade como prática sagrada no casal, fazendo da relação com o outro um espaço sagrado em que estamos profundamente comprometidos.
COMO?
1. Tornando o tempo em casal como uma prioridade, no meio de tanta tarefa e das cheklist enormes do dia-a-dia;
2. Planear momentos de intimidade no casal, não só através da relação sexual;
3. Estar presente para o outro, numa atitude mindful, sem telemóveis ou distracções hi-teck;
4. Partilhar acontecimentos do seu dia;
5. Realizar actividades juntos (cozinhar juntos, ir ao cinema, praticar um desporto);
6. Dar abraços (de longa duração);
7. Ter momento de ternura, através do toque, do afecto do contacto de “pele com pele”;
8. Fazer uma massagem;
9. Olhar-se olhos nos olhos durante alguns minutos, como se fosse a primeira vez (através de uma mente de principiante);
10. Agradecer ao outro;
11. Elogiar o outro (“Hoje gostei muito que…”)
12. Dar a mão na fila do cinema ou do supermercado (ou não importa o lugar);
13. Fazer amor;
14. Escutar o outro sem interromper e dar soluções e reconhecer as capacidades do outro (elas só querem ser ouvidas, e eles só querem ser reconhecidos);
15. E o mais importante, aceitar o outro como ele é, em vez de o tentar mudar tendo em conta a nossa medida.
Artigo em: